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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Rosalind Franklin- O génio que a história escondeu

Rosalind Franklin
Existem muitos nomes que a história engole, uns por vergonha, outros por engano e ainda outros por preconceito. O caso de Rosalind Franklin é, de facto, um caso flagrante deste fenómeno, esta inglesa londrina, doutorada em Química pela Universidade de Cambridge foi a chave para o trabalho considerado extraordinário, pela opinião pública, de Francis Crick e James Watson sobre a estrutura molecular do DNA, trabalho este que levou estes dois cientistas a serem distinguidos com o Prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina em 1962.
 
BI
Rosalind Elsie Franklin, ou como ficou conhecida aos olhos do mundo- Rosalind Franklin, nasceu em Notting Hill em Londres a 25 de Julho de 1920 vindo a falecer ainda nova, com apenas 37 anos, vítima de um cancro nos ovários, a 16 de Abril de 1958.
Rosalind começou a revelar as suas apetências para a físico-química ainda muito jovem, com apenas 15 anos já sabia o que queria fazer na sua vida. Rosalind formou-se e doutorou-se em físico-química pela Universidade de Cambridge em 1945.

Percurso
Maurice Wilkins
Nos curtos 13 anos que marcaram a sua vida profissional, desde o seu doutoramento até à sua morte, Franklin ofereceu imenso à ciência sem nunca ter sido reconhecida convenientemente pelos seus pares, vendo mesmo as suas descobertas serem, segundo alguns autores, "entregues de bandeja" a colegas seus.

Nos três anos que se seguiram à sua saída de Cambridge (1947-1950), Rosalind Franklin esteve em Paris no Laboratoire Central des Services Chimiques de L'Etat, aqui aprendeu técnicas de difracção de raios- X.

Em 1951, rumou de novo a Londres como investigadora associada no laboratório de John Randall do Kings College. Esta mudança de ocupação iria mudar a história da ciência para sempre.

Kings College
Francis Crick
Rosalind Franklin, tal como as mulheres do seu tempo, foi relegada sempre para segundo plano no que à produção de conhecimento diz respeito. Foi no Kings College que esta mente brilhante e talentosa cientista conheceu Maurice Wilkins. Este neozelandês chefiava um grupo de investigação diferente daquele em que Rosalind estava integrada. Nesta altura nenhum deles tinha como objecto de estudo o DNA mas ambos mantinham e manifestavam o interesse pelo tema.

Num dado momento, em que Wilkins se encontrava ausente, Randall, o chefe do laboratório, atribui a Franklin o projecto do DNA, ora esta decisão surpreendeu Wilkins que quando regressou confundiu o papel da cientista no projecto, tratando-a como uma mera assistente quando na realidade era seu par. Este episódio causou desde logo mal estar e criou um clima de tensão e competição, clima este que nunca viria a ser desanuviado até à data de morte da cientista, em 1958.
James Watson
É importante situar historicamente este episódio. Quando Rosalind Franklin chega ao Kings College o clima que as mulheres viviam era de suspeita e exclusão, exemplo disso é que apenas os homens estavam autorizados nas salas de jantar e nos pubs da Universidade.

O momento chave
Apesar de todas as contrariedades e do clima que se vivia entre Franklin e Wilkins, a primeira persistiu no seu projecto.
Este projecto consistia em utilizar técnicas de difracção de Raio-X em fibras de DNA. Estes estudos levaram a uma descoberta fantástica, a de que havia duas formas de DNA, uma forma seca "A" e uma forma molhada "B". As suas fotografias de raios- X de DNA foram reconhecidas como "as fotografias de raios- X mais belas alguma vez tiradas a qualquer substância". Uma das fotografias tiradas à forma "B" ficou conhecida como fotografia "51.
Modelo de dupla hélice
de Watson e Crick
Algures entre 1951 e 1953 Franklin é traída pelo seu par e colega Wilkins. Sabe-se que o neozelandês mostrou a Watson a fotografia 51 da colega, quando viu a fotografia a solução para o problema da estrutura molecular de DNA tornou-se evidente para este homem da ciência e, sem perder tempo, de imediato submeteu um artigo à revista Nature. Todo o trabalho de Rosalind Franklin foi assim engolido pelo impacto fenomenal da "descoberta" de Watson.

A polémica
A discussão sobre o papel da cientista londrina na descoberta da estrutura molecular do DNA ainda continua nos dias de hoje, a única coisa que sabemos de certeza é que ela teve um papel chave neste processo.

Em 2002 Brenda Maddox escreve sobre a reacção de Watson ao ver a fotografia 51, no seu livro intitulado "Rosalind Franklin: The Dark Lady of DNA.": "O meu queixo caiu e o meu coração começou a correr".
Fotografia 51
Aquando da publicação do artigo na revista Nature, Watson e Crick incluíram uma chamada em rodapé ao trabalho de Franklin e Wilkins, referindo que tinham sido inspirados pelo trabalho não publicado destes cientistas, quando na realidade utilizaram a fotografia de Rosalind como base para as suas conclusões sem nunca terem consultado a cientista sobre a sua utilização.

Mais tarde o trabalho de Wilkins e Franklin foi publicado na mesma revista, graças ao acordo a que Randall e o director do laboratório de Cambridge chegaram, no entanto, estes artigos foram vistos como mero suporte ao trabalho de Watson e Crick

Em 1953 Rosalind Franklin deixou o laboratório de Randall e foi trabalhar para o Birkbeck College, onde se dedicou ao estudo da estrutura do RNA e do vírus do tabaco. Nos 5 anos seguintes publicou 17 artigos sobre vírus e, juntamente com a sua equipa lançou as fundações da virologia.

Escultura de Charles Jencks em Cambridge

Rosalind Franklin veio a morrer em 1958, 5 anos depois da publicação do artigo de Watson e 5 anos antes da atribuição do Prémio Nobel a Francis Crick, James Watson e Maurice Wilkins, sem saber que a sua fotografia tinha desempenhado um papel absolutamente indispensável na descoberta pela qual, na opinião de alguns, os seus carrascos, foram distinguidos com o Prémio mais apetecível da ciência- O Prémio Nobel.

Fontes:
http://www.nobelprize.org
http://www.famousscientists.org/
http://www.biography.com
http://www1.folha.uol.com.br
http://www.sciencemuseum.org.uk

Et voilá!
A história esconde histórias, e a ciência não é diferente

Divirtam-se!

1 comentário:

  1. Que coisa, não é? No Brasil dizemos assim: "Papagaio come milho, periquito leva a fama".

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