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terça-feira, 1 de outubro de 2013

A Navalha de Ockham

Guilherme de Ockham
Existe um Princípio muito interessante que vale a pena conhecer e explicar aos irrequietos mais jovens, o Principio da Navalha de Ockham (ou Occam).
Falar na Navalha de Ockaham é falar de filosofia, economia, cosmologia e numa série de outras áreas que não abordaremos hoje aqui. O texto que se segue é uma compilação de retalhos de textos de outras fontes numa tentativa de obter uma explicação o mais simples possível e adaptada aos Irrequietos. Caso queiram obter outro tipo de  informações mais completas no final da página têm alguns links.

Guilherme de Ockham- O homem
A Teoria da Navalha de Ockham é atribuída a Guilherme de Ockham. Este frade Franciscano, que deve o seu nome ao local onde nasceu- Ockham, na Inglaterra- nasceu entre 1280 e 1300 vindo a morrer na Alemanha perto do ano 1349.

Durante toda a sua vida este pensador inglês enfrentou a opinião da igreja em defesa das suas ideias e das suas crenças. Guilherme de Ockham foi excomungado em 1328 pelo Papa João XXII sobre o pretexto de apoiar um grupo extremista da Ordem Franciscana que não tinha qualquer pudor em se pronunciar contra a opulência da Igreja. Fugiu para a Alemanha onde viveu até à suposta data da sua morte, em 1349.
Papa João XXII

Alguns autores consideram Ockham o primeiro dos pensadores modernos, outros consideram-no o último dos pensadores medievais, de uma maneira ou de outra Ockham marca um ponto de viragem entre o pensamento medieval e o pensamento cientifico moderno.


O legado de Ockham
Guilherme de Ockham é uma personagem complexa, foi um homem da Igreja, da Ciência e da Filosofia, numa altura em Igreja, Ciência e Filosofia eram um só. Numa altura em que o conhecimento nestes três campos formava uma amalgama pouco clara que não deixava crescer nenhuma das três.
O grande legado de Guilherme é precisamente ter conseguido traçar uma linha divisória entre aquilo que diz respeito à fé (religião) e o que diz respeito à ciência (razão). Segundo alguns autores Ockham marcou a filosofia* da teologia* o que permitiu, a médio prazo, um passo gigantesco na evolução do conhecimento empírico e consequentemente na evolução da ciência.


"Navalha de Ockham"
Já referimos o facto de que Guilherme era Franciscano e que pertencia à ala mais extremista dos Franciscanos tendo sido por isso excomungado- por defender o desprendimento total dos bens materiais (tal como Cristo).  Ockham parece ter aplicado este ideal franciscano à filosofia e propôs retirar dela toda redundância, todo o peso extra, tudo o que lhe fosse supérfluo tendo chegado à famosa frase "Pluralitas non est ponenda sine neccesitate" (Entidades não devem ser multiplicadas além do necessário), por outras palavras, é inútil fazer com mais o que pode ser feito com menos.

Esta frase foi adaptada e transformou-se naquilo que hoje conhecemos como "A navalha de Ockham" ou "Princípio da economia", esta  é o princípio que determina que perante duas teorias que explicam o mesmo fenómeno a mais simples- a que explica "com menos"- é a correcta. Todos nós, inconscientemente ou não usamos este princípio, perante duas explicações para o mesmo acontecimento, tendencialmente optamos pela mais simples.

Segunda a professora Sara Bizarro, a "navalha de Ockham", é também conhecida como o princípio da parcimónia, e é uma máxima que valoriza a simplicidade na construção das teorias.

Exemplo do uso da Navalha:
O Mentes encontrou este exemplo que pode ajudar à compreensão da Navalha:
Isaac Newton
Isaac Newton, conceituado físico, estava convencido de que Deus teria de interferir nas órbitas dos planetas para que estes se mantivessem nelas. Para Newton o Universo era um relógio que se mantinha em funcionamento desde a Criação e que como qualquer máquina precisava de manutenção, neste caso de corda, para continuar a funcionar sem problemas. Newton considerava que Deus era o responsável pela manutenção deste relógio- chegou a chamá-lo de relojoeiro celeste- sem Deus a corrigir o movimento dos planetas estes acabariam por "perder a órbita", devido às influências gravitacionais, e inevitavelmente acabariam por colidir entre si.
Mais tarde, cerca de 100 depois, Pierre Simon de Laplace mostrou, através da matemática que se os planetas não se desviavam das suas órbitas porque as interferências gravitacionais entre eles se compensavam e acabavam por se anular a longo prazo.
Pierre Simon de Laplace
Quando Napoleão lhe perguntou sobre a razão pela qual tinha esquecido Deus nessa explicação, Laplace respondeu: "Sire, não precisei de utilizar essa hipótese".

Laplace aplicou a "Navalha de Ockham" à cosmologia: 
Havia duas teorias, uma que requeria a existência de uma entidade constantemente vigilante no universo, para criar e manter as coisas a funcionar, a outra que não requeria a existência de nenhum fenómeno ou entidade adicional, ou seja, a hipótese de Laplace não incluí hipóteses adicionais e por isso é a mais simples, é aquela com o mínimo de suposições necessárias para explicar todos os factos observados.

Mas atenção
A navalha de Ockham deixa muito espaço e é muito convidativa a más interpretações e usos abusivos. Quando se diz que a teoria mais simples é a mais correcta não é o mesmo que dizer que a teoria mais fácil de se entender é a mais correcta!

Notem duas coisas, primeiro que o que é simples para uns pode ser complicado para outros, segundo, a própria Natureza é complicada, intrincada, podemos contar com coisas tão simples como Leis Fundamentais da Física mas a verdade é que quanto mais "mergulhamos" em ciências como a física quântica ou a cosmologia mais complexas são as explicações.
É por isso necessário algum discernimento quando se utiliza a Navalha de Ochkam para não "cortar a eito". em igualdade de circunstâncias, as hipóteses que contêm mais suposições ou mais pressupostos têm mais hipóteses de estar incorrectas, e por isso devem ser descartadas.

Sendo assim, a Navalha de Ockham é uma directriz, não uma regra; uma indicação de qual caminho seguir, não um sentido obrigatório.

Exemplo de má utilização da Navalha
Aristóteles
Encontrámos este exemplo e não pudémos deixar de sorrir, as ferramentas estão à disposição da ciência, do conhecimento e da filosofia, mas cada individuo utiliza-as como mais lhe convém, senão reparem:

Alguns criacionistas- pessoas que afirmam que a vida apareceu conforme descrita nas Sagradas Escrituras,- que afirmam que a Navalha prova que a ideologia deles é correta. Afinal, dizer que Deus criou a vida, o universo e todas as coisas é uma explicação mais simples do que dizer que foram criados pelo Big Bang, seguido de uma série incrível de coincidências inter-relacionadas?

Os evolucionistas- pessoas que afirmam que a vida apareceu gradualmente em resultado de uma serie de eventos aleatórios-, por seu lado, também usam a Navalha para fazer valer a sua teoria. A explicação dos criacionistas implica que Deus existe, e nós não temos provas empíricas da sua existência.  Já os ateus fazem exactamente a mesma coisa, utilizam a navalha de Ockham e a ideia de Aristóteles de que "simplicidade é igual à perfeição" para provar que Deus não existe: Se Deus existisse, dizem os ateus, o universo seria bem mais simples, certo?

*
filosofia-, s.f. ciência geral dos princípios e das causas; sistema particular de um filósofo célebre; sabedoria; maneira de pensar
teologia-, s.f. tratado acerca de Deus; sistema religioso; curso de estudos teológicos.

Fontes
http://criticanarede.com/ockham.html
http://www.projetoockham.org/div_ockham.html
http://educacao.uol.com.br/biografias/guilherme-de-ockham.jhtm
http://pessoas.hsw.uol.com.br/occams-razor2.htm
http://www.nintendoblast.com.br/2012/08/analogico-afiando-navalha-de-ockham.html

Et voilá!
Não se esqueçam de utilizar a Navalha com parcimónia

Divirtam-se!

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